Nomes do Flamenco - Gades
Antonio Gades (1936-2004)
Gades nasceu na província de Alicante, no seio de uma família humilde. Com a idade de onze anos, já morando em Madri, deixou de ir à escola, embora gostasse muito de estudar, e buscou trabalho para ajudar sua família. Seu encontro com a dança aconteceu casualmente aos 15 anos. Uma vizinha lhe havia aconselhado que se inscrevesse na academia de flamenco. Três meses mais tarde um agente que buscava bailarinos para uma casa noturna o contratou. Nesta casa, foi visto por Pilar Lopez que o chamou para sua companhia. Foi ela quem o batizou com o nome artístico de Antonio Gades e lhe ensinou que a ética profissional do baile está acima da estética. Gades a reconhece como a inspiradora máxima de sua carreira. Permaneceu em sua companhia por nove anos e, com ela, se aprimorou em todas as danças folclóricas da Espanha. Também estudou balé clássico, mas seu meio de expressão mais autêntico sempre seria o flamenco. Após deixar a companhia de Pilar Lopez, em 1961, fundou o primeiro núcleo de seu próprio corpo de baile. Trabalhou neste período na Itália como coreógrafo e bailarino. Foi nesta época que forjou seu estilo coreográfico personalíssimo. De volta à Espanha, se tornou coqueluche entre os intelectuais em Barcelona, que o estimulam a se apresentar na Exposição Universal de Nova York em 1964, onde obteve grande sucesso. Em 1975, estava em Bolonha quando, ao tomar conhecimento da condenação a morte de cinco companheiros opositores do regime franquista, decidiu dissolver sua companhia e abandonar a dança. Voltou a dançar três anos depois graças ao apoio que recebeu do Ballet Nacional de Cuba, com que havia trabalhado anteriormente como artista convidado. Sua profunda afeição por Cuba veio dessa época. Foi diretor do Balé Nacional de Espanha entre 1978 e 1980, que deixou para fundar sua própria companhia. Em 1981, em colaboração com o diretor Carlos Saura, transformou Bodas de sangue – uma produção da década de 1970, em filme. A colaboração seguiu com os filmes Carmen e Amor Bruxo - adaptações cinematográficas que renovaram o interesse dos espanhóis pelo falmenco. Faleceu aos 67 anos de idade, vitimado pelo câncer. Suas cinzas foram levadas para Cuba e o depositadas em um mausoléu dedicado aos heróis da revolução. Gades legou suas cinzas a Raul Castro, seu "compadre", em uma nota escrita antes de morrer. Gades sempre foi crítico quanto à maneira como o flamenco era interpretado. Para agradar turistas, prostituía, em sua opinião, a cultura do povo. Para Gades, era necessário eliminar todo o mau gosto, as lantejoulas, os virtuosismos, enfim, tudo que fosse supérfluo, e trazer à luz a essência da dança. Na busca de uma nova coreografia, inspirou-se em movimentos artísticos contemporâneos como o abstratismo e o surrealismo na pintura e na literatura. Reinventada por Gades, essa dança tem agora uma nova introversão, que se concentra no dinamismo do sapateado, ecoando nos braços e nos movimentos de rotação do corpo. É o canto que define e orienta os matizes da dança, da mais ligeira à mais grave, da mais picante à mais sombria e fatal. Toda uma rede de tensões amorosas se faz ver na tensão angulosa dos gestos, acentuados por afetos incompreensíveis, controladamente descontrolados. O mínimo que se pode dizer, em suma, é que Gades foi um dos principais responsáveis pela evolução moderna da dança flamenca. Segundo suas próprias palavras: Para mim, o flamenco é uma religião. Consegui catalisar, pesquisar e estudar várias tendências do flamenco que existiam na época, mas acho que o mais importante foi o resgate de várias danças do folclore espanhol. Meu maior mérito foi dar unidade a todo esse tesouro vindo de várias regiões. Tudo o que fiz veio de muito estudo, muita pesquisa e muito sofrimento criativo.”
Comentários
Meninas, estou amando as matérias postadas. Parabéns!
Essas leituras nos faz conhecer melhor o flamenco, desde a sua raiz até os dias atuais. Isso é muito importante para compreendermos a essência do baile e, como isso, sentirmos dentro de nós muito além do que uma simples dança.
Beijos.